Meu trabalho de arte sempre foi predominantemente tridimensional. As esculturas de cerâmica explorando a forma e a textura do pano com argila resultaram em Trouxas, minha primeira exposição individual. Numa decorrência natural, o vidro apareceu no meu trabalho, primeiramente usando a cerâmica como fôrma. A magia do vidro me fascinou – transparência, brilho, cor, nobreza do material, ao mesmo tempo tão frágil que uma brusca mudança de temperatura pode quebrá-lo, mas que também pode permanecer intacto por milênios.
Há mais de 20 anos me dedico ao vidro artesanal, realizando experiências com técnica de sopro e maçarico, mas utilizando principalmente a técnica “Fusing” na criação de esculturas, painéis e objetos. São vidros moldados sobre fôrma criada com material refratário, em fornos a 800ºC, com volume, textura e pintura com óxidos.
A partir de 2007 desenvolvi temática inspirada no grafismo indígena brasileiro. Na arte indígena, me chamou atenção a beleza dos padrões ornamentais que reproduzem metonimicamente os elementos do motivo, e que são usados na cestaria, tecelagem, cerâmica e pintura corporal. A forma do peixe é insinuada pelo contorno losangular; a da cobra por sua sinuosidade em ziguezague e a do jabuti pelas formas quadriculares do seu casco. Também é interessante como a simetria é retificada por um pequeno detalhe assimétrico que expressa a ideia de identidade distinta.
Existem lendas que explicam como os deuses deram aos humanos a capacidade de desenhar. Nas tribos Wayâna-Aparai todo o sistema gráfico é uma representação das “pintas” da lagarta mitológica Tuluperê, nome de uma série de trabalhos. Aos poucos esse grafismo foi se tornando mais abstrato, como em alguns trabalhos da série Translúcida Estampa.
Para a exposição A Cara do Rio 2011 utilizei o grafismo das pedras portuguesas da praia de Copacabana em tatuagens num corpo feminino. Tenho também trabalhos inspirados na natureza brasileira: praias, montanhas e flora.
A série Taças trata de interferências em taças de vidro e cristal, que se derramam, brindam ou se empilham com delicadeza e quase sem cor. Utilizei técnica de fusão, furadeira e outros elementos como areia, ferro, cristais e óxidos. Terezas foi outra série, onde quis falar sobre fuga e liberdade. São cordas de tecidos trançados penduradas. Algumas são cimentadas, outras são moldadas em vidro.
O trabalho que desenvolvo no momento fala de amor e dualidade. Tem como referência o Banquete de Platão. Trata-se de uma instalação com mesa de banquete onde todos os elementos são feitos em vidro incolor e fosco.